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13/11/2013

Direto da China

Por Fernando Salles - 17/10/2013 Além dos famosos itens de bazar, supermercados brasileiros compram cada vez mais feijão, alho e pescados no país asiático. Mesmo em produtos considerados commodities, a diferença de preço pode ser superior a 20%
Trinta e quatro bilhões de dólares. Esse foi o valor que o Brasil importou em mercadorias da China, em 2012. Há dez anos a soma não chegava a US$ 2 bilhões. Com exceção de 2009, a compra de produtos chineses por empresas brasileiras tem crescido substancialmente ano a ano. De olho nos preços atrativos, os supermercados entraram de vez na lista dos importadores de mercadorias "made in China". Esses produtos não se resumem a artigos de bazar. De acordo com informações do Centro Empresarial Brasil- China "tem se tornado cada vez mais relevante a presença de produtos agrícolas chineses no mercado brasileiro". Tanto que no ano passado, a China se tornou o principal fornecedor de feijão para o Brasil. Em 2012, chegaram ao Ceagesp 4.927 toneladas de alho chinês, o equivalente a 20% do total comercializado pelo entreposto. Outro exemplo são os pescados, como a merluza do Alasca, também chamada de polaca: em 2009 a participação da China no mercado brasileiro era de apenas 1%, já em 2012 o país asiático se tornou o principal fornecedor desse peixe para o Brasil. Recentemente, a Rede Brasil, que reúne supermercados importantes de todo o Brasil, fez sua primeira encomenda de pescados da China. Foram 800 toneladas de panga, peixe oriundo do Vietnã que é limpo e embalado em território chinês. Segundo Antonio José Monte, presidente da Rede Brasil, dependendo da taxa do câmbio, a diferença de preço em relação a outros pescados pode chegar a 70%. "Visitamos as fábricas, que são muito bem montadas e trabalham com toda a higiene", ressalta. Os associados da Rede Brasil também já compraram da China equipamentos para depósitos, como plataformas de elevação, e para lojas, como lâmpadas de LED que, apesar de mais caras, apresentam vida útil cinco vezes maior, o que gera grande economia. A rede paulista Coop, uma das integrantes da central, trouxe lâmpadas de LED, inclusive, para vender ao consumidor final. Quem trabalha há tempos com importações chinesas é a Super Rede, central de negócios que reúne supermercados de Fortaleza (CE). Há três anos, ela compra da China alho e filé de polaca. Segundo Leandro Fermino, gerente de importação da Super Rede, o pescado sai para o consumidor final cerca de 25% mais barato na comparação com o mesmo produto da Argentina. Nas suas compras, a Super Rede costuma trazer container fechado, o equivalente a 24 mil quilos. O produto, de qualidade standard, vem embalado em bandejas de 1 kg.
A Super Rede também traz alho da China, como forma de suprir a demanda desse produto no período de entressafra. A compra é feita de julho até novembro, quando começa a produção na América do Sul, em países como Chile, Peru e Argentina. "A China consegue armazenar em condições que simulam o ambiente da terra, o que evita que o alho brote", explica Fermino. Dessa forma, é possível encontrar alho chinês praticamente durante todo o ano. "Chega redondinho, no tamanho e padrão exatos que pedimos", destaca. Mesmo sendo uma commodity, o preço sai 10% a 20% mais barato. Apesar do preço competitivo, importar da China exige planejamento e alguns cuidados especiais. "No mercado nacional o fornecedor vem até nós, já no internacional somos nós que precisamos ir até eles", afirma Leandro Fermino, que altera sua jornada de trabalho, atuando mais no período noturno, sempre que está em negociação com os chineses. Afinal, são 11 horas de fuso horário, somadas ao hábito chinês de ter a manhã como principal período de trabalho. Fermino conta que a primeira conversa é feita normalmente via skype. A partir daí começa a troca de e-mails. Toda a comunicação é realizada em inglês. "Os chineses são extremamente metódicos, por isso tudo deve ser muito bem explicado para que atenda o padrão desejado", conta. É preciso ainda planejamento para comprar com antecedência. Enquanto o filé de polaca argentino chega aos associados da Super Rede em um prazo de cerca de 15 dias, o produto chinês de origem animal demanda cerca de 90 dias: 30 dias para processamento, 50 no trânsito da mercadoria e mais 10 para liberação na alfândega brasileira. O estereótipo de que todo produto da China é de baixa qualidade não corresponde aos fatos, pelo menos no que diz respeito a inúmeros produtos. Há, inclusive, itens premium disponíveis para importação, como o filé de bacalhau. Mesmo assim, antes de começar a comprar é preciso checar a idoneidade do fornecedor e a qualidade dos produtos. Como Leandro Fermino, da Super Rede, não conseguiu ainda espaço na agenda para visitar pessoalmente os fornecedores, a solução foi contratar uma consultoria dos EUA instalada naquele país para averiguar padrão e procedimentos. No futuro, o gerente espera visitar o país a fim de avaliar fabricantes de produtos para bazar. Quem também importa da China é a rede mineira ABC. Malas de viagem, lixeiras, aparelhos de jantar, barracas de camping, pneus, enfeites e árvores de Natal são alguns dos itens que compõem o sortimento. "Os preços são muito convidativos, com diferenças de até 30%. Às vezes vendemos ao preço que estaríamos comprando aqui no Brasil", destaca Thulio Martins, vice-presidente da rede. Para ele, a eficiência na produção industrial tem tornado a China uma opção interessante para o abastecimento do mercado brasileiro. Fazer um negócio da China nunca foi tão bom e fácil. ESCALA DA IMPORTAÇÃO O rápido crescimento das importações da China impressiona. Em dezanos o salto foi de mais de 2.000%, uma diferença de R$ 32,6 bi